quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

sopa de letras e as consoantes da esperança




O Brasil, durante sua trajetória de formação política e institucional, produziu sempre resultados multifacetados e sincréticos. Não podendo esperar algo diferente, as multifaces, talvez em âmbito político-econômico-sociocultural, uma vez já foram dualface. Somos marcados de berço por dicotomias e dualidades não totalmente superadas: Elite/Massa, Agricultura de exportação/Agricultura de subsistência, Litoral/Sertão, Nordeste/Sudeste, Industrial/Rural, Moderno/Atrasado, Centro/Periferia, Casa Grande/Senzala, Branco/Preto, Rico/Pobre, Formal/Informal, Indivíduo/Pessoa, etc. Elas ainda estão presentes como constelação de ideias fincadas muitas vezes à figuras influentes ou de indivíduos não tão presentes em suas consciências. O fato que jamais deve ser ignorado, é de que isto, como marca, nos proporciona, desenha, e em certos casos limita, levando a circunstâncias específicas. É ponto base para a consciência histórica de formação nacional. Nesta base, não se pode esquecer os elementos econômicos, culturais e por assim dizer sociais peculiares. Esta configuração de trajetória histórica, nos dá o panorama de formação para uma possível transformação. 

Nisto, diversas práticas institucionais ou institucionalizadas por razões estratégicas, marcam nosso mosaico nacional. Uma delas é o clientelismo e o largo uso dos partidos políticos sob essa prática. O clientelismo que vem desde a confusão entre patrimônio pessoal e público, o patrimonialismo, e desde a construção de barganhas para interesses outros que não o da real construção nacional, se constituiu como uma prática comum e instrumento meio que "necessário" para se ter demandas ouvidas e atendidas, até mesmo por vozes oprimidas. Talvez, digamos que, a partir da aversão ao associativismo racional, este seja o maior apelo emocional institucionalizado para conseguir ser ouvido e atingir determinado objetivo em uma lógica moderna política-econômica-institucional por elementos socioculturais. Fato é que já faz aniversários seculares. 

Vindo disto, encontramos uma realidade gerada a partir deste mosaico: justamente a sopa de letras partidárias. Temos por volta de 35 partidos políticos. 35. É isso mesmo?! É isso mesmo. Isto significa uma força representativa sobre as multifacetadas necessidades das diferentes realidades da população e camadas vulneráveis brasileiras? Dificilmente. É só acompanhar a maioria dos mandatos dos eleitos que veremos uma enorme diferença entre discurso e prática. Nestas ainda remanescentes dualidades e dicotomias, temos na corrida eleitoral os "polos" não tão antagônicos assim, o PT e o PSDB. Nestas disputas, já há algumas décadas, foram oscilando e alternando programas, cargos, personalidades e enredos na conquista e manutenção dos mais altos poderes materiais. Neste percurso, e agora neste estado, se evidencia um desgaste próprio de estratégias, credibilidades, posturas discursivas e tudo aquilo que perece ao longo da presença de uma baixa moralidade. Nisto tudo, recentemente, me pegou uma forte e boa sensação, ainda não sentimento, de esperança em relação às fricções de quadros políticos em seus debates, campanhas e eleições: um "novo" engajamento de ações a partir do PDT, através das filiações e empenhos de Ciro Gomes e Roberto Mangabeira Unger. Não sou especialista da área e nem otimista de curto prazo, e nem acho tudo muito novo, mas de uma certa forma é um quadro que surge em um momento bastante oportuno, com figuras presentes altamente capacitadas, a sacudir as poeiras e esquentar os debates. Ciro Gomes, com sua trajetória larga e de boas expressões, talvez encontre dessa vez uma das maiores oportunidades de se colocar como um bastante interessante candidato à presidência da república. Sem falsa cordialidade, no mínimo dará boas alfinetadas nos participantes. O Professor Unger por sua vez, eleva de maneira profunda as racionalidades de planejamento na construção e desenvolvimento de um país. Com suas aulas em Harvard e entrevistas dadas aos focos internacionais, por exemplo "Hard Talk" da BBC, famoso por seu clima desafiador, o Professor mostra para que veio. Veremos como se conjugará, um político experiente mas de percurso partidário tortuoso, aliado ao intelectual de mente decidida. 

Saindo da dualidade, e dos conflitos da tese e antítese, podemos esperar pelo menos por uma síntese. Que se repercuta no mínimo em um nível mais elevado de debate e em preocupações mais verdadeiras com a realidade de desenvolvimento de um país como o nosso. Veremos ao longo destes dois anos e mais um pouco, como este engajamento se desenvolverá a partir das lógicas de coligação e cooptação que muitas vezes se deparam para aqueles que querem conquistar o poder. Somados a isso temos ainda as consoantes PSOL e a PSB, que também podem contribuir com a pimenta no caldeirão afim de se tornar mais sério o rumo dos debates reflexivos a que nos encontramos de anos em anos, e não meramente uma jogatina verborrágica de asquerosos oportunistas egóicos. Que a sopa de letras produza as consoantes da esperança.  











Nenhum comentário:

Postar um comentário